quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O absurdo como recurso narrativo


Em “Bastardos Inglórios”, Tarantino surpreende a todos com um final tão inusitado quanto “historicamente descompromissado”: um plano para assassinar as maiores lideranças nazistas (incluindo Hitler e Goebbels) é - ao contrário do que sabemos – “bem sucedido”. Não acredito que esteja em jogo, aqui, a idéia de “verossimilhança” ou que qualquer crítica baseada na dissonância do filme com a realidade histórica possa se sustentar. O final insólito do filme, devemos notar, não pretende “revisar” (no sentido “revisionista” do termo) dados historicamente conhecidos sobre a segunda guerra: sua própria narrativa não tem, nem pretende ter, força suficiente para fazer com que o espectador passe a acreditar no fim alternativo que Tarantino propõe ao evento. Uma crítica baseada no argumento de um final “historicamente insustentável” deve entender que é no próprio absurdo que reside o maior recurso narrativo do diretor: toda a platéia sabe (ou deveria saber) que não foi aquele o desfecho da guerra; o choque provocado pelo fim alternativo é justamente o que pretende mobilizar o espectador. Nesse sentido, o filme mostra um evento que não se pretende acreditável; quaisquer críticas sobre isso são absolutamente tautológicas, já que se pressupõe que a verdade seja conhecida, para que o final possa ser apreciado (no sentido de contemplado). Pode-se, certamente, discutir a linguagem fílmica contemporânea a partir da obra; é possível, também, analisar as visões contemporâneas acerca da Segunda Guerra e do Nazismo. Com relação aos supostos perigos da tentativa de revisão dos fatos da segunda guerra, fica apenas um lembrete: é na sutileza que reside a maior arma dos que propõe visões enviesadas da história.

Um comentário:

  1. Excelente postagem! É no absurdo que reside o maior recurso narrativo do diretor. Muito legal o blog!

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