segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios: algumas questões.

Segundo Marc Ferro, “[...] na mitologia do cinema, a estrela e o produtor, realizador e o autor lutaram, durante muito tempo, disputando a proeminência. A legitimação do cinema só foi lograda no dia em que o cinema de autor ganhou suas primeiras batalhas; e, sob esse aspecto, na França, por exemplo, a ação dos Cahiers du Cinéma contribuiu generosamente para a promoção do cineasta, desde então igualado ao escritor, ao filósofo.” (p.151).

Aqueles que esperavam ver em Bastardos Inglórios apenas algumas horas de Brad Pitt, tiveram uma grande surpresa. Diferentemente de Tróia, filme de 2004 dirigido por Wolfgang Petersen, em que o ator interpretando o herói Aquiles apareceu o tempo todo, no longa-metragem de Quentin Tarantino ele fica em segundo plano, quiçá terceiro. Para o desespero dos públicos feminino e homossexual, o galã não tem o filme totalmente direcionado para o seu personagem. Protagonizando o tenente Aldo Raine, líder de um grupo de soldados judeus conhecido pelo inimigo como “Os Bastardos”, Pitt mesmo proporcionando vários momentos engraçados, teve apenas uma boa atuação entre muitas outras.

O que fica claro ao vermos Bastardos Inglórios é quantidade de marcas do seu autor: Quentin Tarantino. Como dito anteriormente o filme não se foca no Brad Pitt, não é um cinema de ator, e sim um cinema de autor. O filme possui histórias paralelas, é divido em capítulos, é rico em diálogos interessantes e possui a ironia e a violência características do cinema Tarantiniano. Particularmente não sou um dos fãs desse tipo de cena violenta, mas há quem goste. Mesmo assim considero Tarantino genial, pois, criou um ótimo filme sobre a guerra, mesmo não tendo como proposta ser fiel aos fatos. E justamente essa liberdade de criação do cinema que torna o filme ótimo. Ao colocar judeus escalpelando nazistas ele traz à tona o que há de mais desumano nos seres humanos: sua humanidade. Quantos não disseram: “Ah, é um nazista!” ou então “Agora é a vez deles!”. Ele trata justamente dessa ilusão de que se pode justificar uma morte. Hoje um nazista pode ser escalpelado ou ter seu crânio amassado, assim como um russo poderia ser nocauteado pelo Rocky na época da Guerra Fria e como um árabe terrorista pode ser morto sem problemas em um filme . Essa é a marca do grande autor, a capacidade de brincar com a realidade.

Enfim, é evidente que a participação dos atores é essencial. Destaco a de Christoph Waltz, que encarnou brilhantemente o coronel Hans Landa, personagem que lhe deu o Prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes. Mas, ver Bastardos Inglórios é, sobretudo, ter a oportunidade de ver a criação de um dos maiores cineastas de sua geração: Quentin Tarantino.

Bibliografia:

Burguière, André (org.) Dicionário das Ciências Históricas, Rio de Janeiro: Imago, 1993



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