sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios: o novo olhar de Tarantino.


Um dos aspectos que mais chama a atenção no mais novo longa-metragem de Quentin Tarantino é que este constitui, sem dúvidas, um novo olhar sobre a Segunda Guerra Mundial, passando longe da seriedade com que este tema é tratado em muitos filmes e inovando pelo fato de demonstrar uma vingança judia. Tarantino, conhecido por seu humor e ironia, não poderia deixar de abusar das caricaturas e gozações. Nazistas do alto escalão, como Hitler e o ministro da propaganda Joseph Goebbles são responsáveis por caracterizações e passagens cômicas, sendo retratados muitas vezes como amedrontados. Os próprios norte-americanos não escapam: Aldo “O Apache” Raine encarna uma espécie de caipira, interpretando-o com gestos e sotaques característicos; e os mesmos são alvo de uma piada – realizada no decorrer do filme - do fato de não saberem outra língua além do inglês.

É claro que a violência, outra marca pela qual o diretor é conhecido - e diga-se de passagem, odiada por muitos e adorada por outros - também se faz presente neste filme. Ação, sangue e tiros são recursos do diretor, no entanto, a meu ver, são menos utilizadas do que em seus filmes anteriores, como Kill Bill, por exemplo. No longa recente, tal violência é mais reservada justamente às cenas dos Bastardos Inglórios, que se dedicam a tentativa de escalpelar pelo menos cem nazistas – como ordena Raine. Nestas cenas podemos perceber uma certa continuidade de Tarantino com suas demais obras; já fora destas nota-se que o diretor passa a valorizar momentos de pausas e diálogos mais elaborados, sabendo aproveitar excelentes atores. Um exemplo disto é uma das primeiras cenas do filme - ilustrada na foto em destaque - estrelada por Denis Menochet, um fazendeiro que dá abrigo a uma família judia, e Christoph Waltz, o nazista conhecido como “caçador de judeus”.

Com todo este senso de humor, abuso da violência e caracterizações, Bastardos Inglórios é, em minha opinião, uma diferente versão sobre a Segunda Guerra Mundial. Apesar de se passar neste momento histórico, chama bastante atenção que o filme, em muitos aspectos, não condiz com o modo que as coisas realmente aconteceram. Parece que Tarantino optou por um “não compromisso” com a realidade, pois os próprios Bastardos que dão nome ao filme são uma criação do diretor. Além disso, este deixa bem claro o caráter ficcional do longa quando opta por iniciá-lo com a frase “Era uma vez em uma França dominada por nazistas...” , além de dividir suas seqüências por capítulos. Ao meu ver, este é um dos pontos em que Tarantino é mais “radical”, uma vez que rompe com uma tradição do cinema hollywoodiano, muito preocupado com o caráter de verossimilhança de seus filmes, na tentativa de conseguir uma identificação com o público.

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