quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Novos olhares


O filme "Bastardos Inglórios" de Tarantino chama atenção por muitos aspectos que já foram destacados aqui. No entanto, a meu ver, o que realmente faz, ou pode fazer, o espectador se deliciar com a película é o fato de nos dar o que muitos queriam há muito tempo: o troco. Mais do que as derrotas nazistas para os Bastardos, mas o judeu dando o troco em seu opressor.

Não posso falar desse aspecto marcante sem me referir a outro fundamental para que essa vingança ocorra tão intensamente: a reescrita da história. Tarantino não só lança um novo olhar sobre a história, mas a reinventa; contudo, não sem lançar um novo olhar sobre o tema, que de objeto passa a ambiência. Isso me faz lembrar uma edição da Superinteressante, de setembro deste ano, que tratava das novas perspectivas de uma "nova geração de historiadores" em torno da Segunda Guerra, dentre as quais destaco os estudos acerca da "valentia dos judeus", como chamou a própria Super, que tratam justamente da resistência judia ao Terceiro Reich. Considerando que Tarantino levou 10 anos para escrever o roteiro do filme, acho difícil dizer que sua postura reescritora da história é reflexo dessa revisão historiográfica sobre o assunto, posto que esta é muito recente, mas sem dúvida acho que podemos pensar que as duas são uma reação comum, nos campos artístico e acadêmico cada uma, ao desgaste de um tema tão vastamente tratado, ou a um desgaste de sua abordagem.
Se a História cansou de caracterizar a Segunda Guerra em certa medida pelo massacre de judeus, também o cinema e, mais do que isso, o público, cansou de ver as telas exibirem tais atrocidades. Talvez mesmo porque toda a produção fílmica sobre a esse respeito (ao menos a que eu conheço), ou seja, a "história do vencedor", tenha contribuído para uma antipatia - mais do que isso, ódio mesmo - em relação ao nazismo, de modo que a desforra de Tarantino encontra seu lugar na platéia. Posso estar enganado, mas foi assim que eu me senti ao assistir ao filme.


Ponto para reflexão: em inglês, o nome do filme é "Inglorious Basterds", e não "Bastards", como deveria.



Ricardo Dutra

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