terça-feira, 27 de outubro de 2009

Vingança judia ou vitória nazista?

O filme é uma produção de Quentin Tarantino que retrata o movimento dos judeus contra a opressão nazista. O filme revive o contexto da Segunda Guerra Mundial, momento do governo de Hitler, período em que muitos judeus foram perseguidos e exterminados. Trata-se, porém, de fatos fictícios. O contexto é verdadeiro, mas a história de vingança dos judeus contada no filme é fictícia.
Quentin Jerome Tarantino estudou por três anos com o ator James Best, trabalhou em um cinema (pornô) e na locadora Video Archives em Manhattan Beach, onde ganhou fama como crítico. Sua entrada para o cinema aconteceu em 1986, quando escreveu e produziu o filme “My Best Friend’s Birthday”. O filme ficou inacabado, mas deu idéias para seus próximos roteiros: “True Romance”, de 87, e “Assassinos por Natureza”, de 88. O sucesso chegaria em 1991, quando seu último roteiro, “Cães de Aluguel”, estourou no Festival de Sundance. Em 1994, chegou aos cinemas “Tempo de Violência”. No mesmo ano, o famoso diretor Oliver Stone dirigiria outro roteiro de Quentin, “Assassinos por Natureza”. Destacam-se também “Pulp Fiction”, “Grande Hotel”, “Jackie Brown”, “Um Drinque no Inferno” e os dois filmes de “Kill Bill”.
Em Bastardos Inglórios, a história começa no primeiro ano da ocupação da França pela Alemanha, período que os nazistas iniciam uma verdadeira caçada aos judeus, visitando locais onde eles poderiam estar escondidos. A personagem de Shousanna, interpretada por Mélanie Laurent, é uma judia que consegue fugir durante a visita do coronel nazista Hans Landa, conhecido como “o caçador de judeus”, interpretado pelo austríaco Christoph Waltz. Shosanna vê sua família ser assassinada, mas consegue escapar e parte para Paris, onde assume uma identidade falsa e se torna proprietária de um cinema. A jovem tem a chance de realizar sua vingança, quando após chamar atenção do soldado alemão Frederick Zoller, interpretado por Daniel Bruhl, garante a exclusividade de exibição da estréia do filme “Orgulho da Nação” em seu cinema. A história do filme “Orgulho da Nação” é baseada no ato heróico do próprio Zoller, que ficou conhecido por toda a Alemanha por derrotar, sozinho, homens das tropas inimigas. Devido a sua notoriedade frente aos demais nazistas, a estréia contaria com a presença de todo o alto escalão do Terceiro Reich, inclusive Hitler e o ministro da Propaganda, Joseph Goebbels.
Simultaneamente, em outro lugar da Europa, o tenente Aldo Raine, interpretado por Brad Pitt, organiza um grupo de soldados judeus que capturam soldados alemães e os matam brutalmente. Antes de matá-los, porém, Raine dá duas opções aos soldados: ou eles relatam onde estão outros soldados, quantos são e como estão armados, ou são assassinados. Os que optam por não entregarem seus companheiros de guerra, são mortos violentamente e os que aceitam relatá-los, são liberados. Todavia, antes de liberá-los, Raine, marca as suas testas com o símbolo da suástica, para que todos soubessem que um dia eles perseguiram judeus. Posteriormente chamados pelos nazistas de “os Bastardos”, o esquadrão de Raine se une à atriz alemã Bridget von Hammersmark – vivida por Diane Kruger - em uma missão para derrubar os líderes do Terceiro Reich. Coincidentemente, o plano tramado pelos bastardos aconteceria no cinema de Shosanna, pois, para eles, o evento seria uma chance incomparável. O roteiro de Tarantino, portanto, remenda os dois segmentos do filme no final.
A única questão não tão feliz do filme é que Shousanna, apesar de morrer, consegue realizar a sua vingança que culminou com o fim da guerra. Todavia, nem o coronel Hans Landa, nem os “bastardos” tomam conhecimento do seu ato. Para eles, foi o plano do grupo juntamente com a ação do coronel – Hans Landa descobre o plano, mas decide não impedir que ele fosse executado - que possibilita o assassinato de Hitler.
Como em outros filmes de Tarantino, como “Kill Bill” e “À prova de morte”, o tema do filme é a vingança, premeditada pela sobrevivente da chacina nazista, Shousanna, e pelo grupo que dá nome ao filme. Entretanto, o tema é trabalhado por Tarantino, como já era de se esperar, mediante um mix de violência e humor. Os diálogos são marcados pela ironia e até as cenas de violência possuem um tom cômico.
A presença de caricaturas é outro fator que garante o humor da trama. Os atores representam bem os personagens que interpretam e suas marcas são notadas no sotaque, na vestimenta, no jeito de falar. Desse modo, o diretor retrata os personagens pelos seus estereótipos conhecidos, como o jeito altamente educado do inglês e a vestimenta perfeita dos nazistas. A trilha sonora escolhida também garante esse caráter dúbio.
Poderíamos considerar que ao produzir a trama, Tarantino tinha como objetivo apresentar a vingança dos judeus como uma forma de realizar uma vingança em nome dos mesmos, visto que em outros filmes que abordam a questão da Segunda Guerra Mundial, os judeus são sempre assassinados e retratados como personagens fracos, sem força de voz frente ao regime nazista. No entanto, se analisarmos mais cautelosamente a história da trama, observamos que Tarantino finaliza o filme com a vitória do coronel Hans Landa. O plano do grupo “bastardos” é descoberto, o coronel prende o seu principal membro e faz um acordo com ele: Hans deixaria o plano ser concluído em troca de asilo e em troca do grupo declarar que o famoso “caçador de judeus” era na verdade um membro do grupo infiltrado. O tenente judeu Raine concorda com o acordo e a vingança de Shousanna nem chega ao conhecimento dos dois de modo que para os envolvidos a vitória só acontece porque o coronel nazista resolve mudar de lado no último momento. Dessa forma, poderíamos concluir que, na realidade, Tarantino, como os demais roteiristas e produtores que abordaram o tema da Segunda Guerra Mundial, pois a vingança judia acontece no filme, porém o plano só é executado porque um dos homens que mais perseguiram judeus opta por deixá-lo ser concluído. O fim da guerra, portanto, viria das mãos de um dos que mais torturaram judeus. O regime nazista, então, fracassaria com a ajuda de um nazista.

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