terça-feira, 1 de dezembro de 2009

(ainda exercício de Bastardos Inglórios)

O filme de Quentin Tarantino, Bastardos Inglórios, começa numa França ocupada por nazistas, onde Shosanna Dreyfus (Laurent) testemunha a execução de sua família pelas mãos do coronel nazista Hans Landa (Christoph Waltz).

A introdução (Primeira Parte do filme) é brilhante, com um diálogo sobre ódio, entre os personagens de Waltz e Denis Menochet (um fazendeiro francês que escondia a família Dreyfus em seu porão).

Para mim, este primeiro diálogo é a grande conquista do filme: nele, o coronel Landa discute o porquê do nojo de ratos e não de esquilos, que transmitiriam as mesmas doenças aos humanos. O fazendeiro francês não consegue explicar porque só odeia os ratos, já que os esquilos seriam igualmente nocivos, afirmando que se aquele entrasse em sua casa ele o receberia a pauladas sem que este tivesse tido tempo de sequer ferir sua família.

Após a Segunda Gerra Mundial (1939-1945), muito se tentou (e ainda hoje se tenta) explicar o porquê do ódio de Hitler aos judeus, mais especificamente. – Sem contar as minorias atingidas por ele em sua “limpeza étnica” (ciganos, homossexuais, deficientes físicos, e outros). Não podendo explicar assertivamente, tentamos diversas elucubrações, mas temos dificuldade em aceitar um ódio extremo sem explicação racional. Ódio pela simples existência do outro, que é o diferente – de acordo com uma das teses de Edward Said.

Apesar da fuga aos fatos históricos da Segunda Guerra Mundial ao final de seu longa, Tarantino propõe boas reflexões sobre a questão da violência por parte dos judeus, como forma de vingança.

O tema da luta pela sobrevivência por parte dos judeus nos tempos de Segunda Guerra, já largamente utilizado em filmes, peças teatrais, livros (e penso que, talvez, seja este um dos trunfos de Tarantino neste filme sobre um tema já tão explorado, sei final inesperado), é, em geral, retratado como exemplo de bravura e coragem (como num filme recente [2008], chamado Um Ato de Liberdade, passado em florestas do leste europeu, onde judeus se escondem e vivem com base de extração da natureza, em comunidade, fugindo dos soldados nazistas; isso para ficarmos em apenas um exemplo!).

Em Bastardos Inglórios, Tarantino mostra uma possibilidade de os judeus praticarem atos igualmente brutais se tivesse tido ou uma liderança forte, ou apoio bélico, ou oportunidades imperdíveis (como a de Shosanna, ao abrigar numa só noite, Hitler e Goebbels em seu cinema – sem aqui ter nenhum pensamento do tipo: Eles começaram primeiro;os judeus estavam quietos!...) Uma discussão sobre vingança violenta para um tema tão caro à humanidade (a Segunda Guerra em si e o preconceito étnico-religioso).

Outro ponto alto do filme são as caricaturas apresentadas no decorrer da trama. O diretor reduz os tipos a seus estereótipos (o americano caipira e bruto, a francesa blasée, os nazistas engomadinhos), economizando, assim, tempo de caracterizações. Nestes estereótipos, na crítica ao modo como os estadunidenses tratam outros povos (quando a atriz alemã pergunta se o povo daquele país falava outra língua além da própria) e na especial caracterização do general Landa e de um Hitler mimado, creio estarem os momentos de humor, comuns entre os filmes do diretor, que consegue mesclá-los com cenas de intensa violência e sangue.

*Fonte de pesquisa: www.omelete.com.br

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Aula do dia 02/12/09 – Ventos da Liberdade


Lembro aos alunos da disciplina de Narrativa e Guerra que a aula do dia 02 será no evento CINEHIST, a partir das 14h, no bloco O. O Erick vai apresentar informações sobre o filme e sobre os conflitos na Irlanda também como parte de nossa disciplina. Passaremos lista de chamada e também estarei recolhendo os trabalhos finais de vocês, sem falta, para que conseguir fechar as avaliações e as notas no prazo.


O Erick também nos deixou informações sobre o evento e sobre o filme abaixo: Este é o endereço no Orkut da comunidade do CINEHIST (http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=46280413).

Sobre o filme Ventos da Liberdade

Título Original: The Wind that Shakes the Barley
Tempo de Duração: 127 minutos
Ano de Lançamento (Inglaterra / Espanha / Alemanha / Itália / França / Irlanda): 2006
Diretor: Ken Loach (o mesmo de "Terra e liberdade")

Sinopse:
Irlanda, 1920. Os trabalhadores do interior do país se organizam para enfrentar os esquadrões britânicos que chegam para sufocar o movimento pela independência. Cansado de testemunhar tanta brutalidade, Damien (Cillian Murphy), um jovem estudante de medicina, abandona tudo para juntar-se ao irmão Teddy (Padraic Delaney), que já aderiu à luta armada. Quando as táticas não-convencionais dos irlandeses começam a abalar a supremacia dos soldados britânicos, o governo se vê forçado a negociar e os dois lados discutem um acordo de paz. Nesse momento, na Irlanda, aqueles que estavam unidos pela independência se dividem entre os que são a favor e os que são contra o acordo, deixando os irmãos em lados opostos de uma nova guerra, agora interna.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A História ao avesso



O filme "Bastardos e Inglórios" do diretor Quentin Tarantino deve ser cuidadosamente analisado devido a grande diferença que este filme tem sobre todos os outros filmes produzidos sobre o assunto da Segunda Guerra Mundial.
A grande sacada do filme está na inversão que é feita, todos os outros filmes e temáticas que são construídas sobre o período histórico foca no sofrimento da humanidade perante ao nazismo, mais expecificamente, sobre o sofrimento judeu na Segunda Guerra Mundial. O filme, pelo contrário, foca muito na violência dos judeus contra os nazistas, essa violência organizada por um esquadrão específico antinazista. Não que o filme deixe de mostrar a violência nazista contra os judeus, mas mostra uma forma de resistência e combate a toda aquela caça nazista antijudia que existia naquela época, muito bem demostrado no filme.
É importante notar que mesmo o filme mudando o enredo da história, principalmente o final, o diretor Quentin Tarantino não parece em nenhum momento desconhecer a história oficial do período, percebe-se existir uma preocupação com a história quando ele trata da invasão alemã a frança, mostrando exatidão na data da ocupação.
O final do filme é fantástico pois mostra a "alta nobreza" do partido nazista muito indefesa quando um simples plano de matar a todos em um cinema dá certo. Foi incrível ver Hitler deitado no chão sendo fuzilado, da maneira mais crua possível.
O filme "Bastardos e Inglórios" foi muito bem feito, tanto direção quanto produção. Como a maioria dos filmes do Quentin Tarantino a questão principal é a vingança, e mesmo não tendo existido um esquadrão antinazista que botou terror no exército nazista, é interessante perceber pelo filme, o sentimento que os judeus possuem sobre os nazistas que até hoje deve estar bem vivo na memória desse grupo social, e esse sentimento é a raiva.

Exercício Guerra do Vietnã – Matéria José Hamilton Ribeiro

1) A presença do repórter no front pode mudar muita coisa da sua percepção da guerra, desde seu sentimento geral em relação as questões a serem abordadas até a observação de fatos que poderiam passar despercebidos caso se mantivesse distante do conflito. Uma maior aproximação do evento pode mudar radicalmente o “ângulo” pelo qual se observa as guerras. Este fato é particularmente perceptível na guerra do Vietnã, quando configurava-se um clima geral de insatisfação com a guerra e, nesse sentido, desconfiava-se de uma possível interferência do governo norte-americano, mergulhado no contexto da guerra fria, na transmissão e divulgação das notícias.
3) Hamilton também se aproximou dessa sensibilidade ao buscar transmitir uma visão mais “realista” a guerra. Mas, tendo ele se transformado, depois de um acidente numa mina, em mais uma das vítimas da guerra, o autor explorará todas as conseqüências que marcam essa experiência. O acidente o coloca em um hospital ao lado das outras vítimas da guerra, onde vê os seus próprios dramas e sua experiência traumática misturar-se com a dos que ali estão. Como poderíamos esperar, a ocorrência muda completamente a sua visão da guerra, levando-o a questionar a divulgação “objetiva” da maior parte da mídia – através de dados e números e narrativas gerais. Explorando a sua própria experiência trágica, Hamilton mensura densamente o quanto um drama particular nunca poderá ser quantificado ou narrado “objetivamente” por um jornal.
4) Acredito que hoje o contexto mudou muito, assim como o que poderíamos chamar de relação guerra-sociedade. No período da guerra do Vietnã deve-se levar em conta que grande parte da insatisfação associada à guerra estava relacionada à questão do recrutamento universal, e consequentemente, a necessidade de obter-se um consentimento da população em geral em relação à participação guerra; o que foi extremamente problemático naquele período. Perdendo a guerra o seu significado, criou-se um clima de insatisfação no próprio front, onde se registraram insubordinações e inúmeras quebras na hierarquia militar. O próprio Spilberg chegou a dizer que foi este aspecto da guerra do Vietnã que sempre o horrorizou; o que, inclusive, o motivou a resgatar uma visão “republicana” da guerra em O Resgate do Soldado Ryan (1998) – onde enfatiza exatamente, apesar de não deixar de manifestar “horror” imediato presente no conflito, o comprometimento dos soldados e oficias com a causa que levou a sua deflagração.
Se tomarmos como contraponto a segunda guerra do Iraque, pode-se perceber o esforço do discurso oficial do governo norte-americano em destacar o seu caráter “cirúrgico”, bem como em proclamar o mais rápido possível o “fim” da guerra. Se antes era necessário convencer a população das causas da guerra e esperar que ela aderisse à mesma, agora se enfatiza exatamente a não-necessidade disso.
Em que isto altera a narrativa jornalística? Se antes o jornalista voltava a sua abordem “realista” da guerra para a própria crítica da sociedade em que vivia, agora tanto o discurso oficial da presidência quanto o “pânico” coletivo pós-11 de setembro em relação ao oriente médio, parecem ter quebrado esse tipo de olhar, principalmente nos Estados Unidos. Afinal, de onde falará a crítica? Pode-se destacar, como foi mencionado nos comentários anteriores, que a própria velocidade e espetacularização da guerra também reforçou a reprodução de relatos “acríticos”.
Por outro lado, deve-se mencionar o esforço de determinadas agências em enviar repórteres ao front e a reconstruir uma crítica à guerra, como no caso da Folha de São Paulo que analisamos em sala. Pois, se a crítica não se volta mais para um modelo de sociedade que ainda estava presente naqueles anos 60, a guerra não deixa de ter conseqüências dramáticas para os que se encontram diretamente envolvidos nela; sendo a experiência do repórter no front ainda um lócus privilegiado e extremamente importante para se observar esta questão.
Igor Fernandes Viana de Oliveira

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A "desconstrução" da história por Tarantino



A mais recente produção de Quentin Tarantino é sua obra mais ousada se considerarmos a complicada temática abordada. O tema segunda guerra mundial talvez seja um dos mais populares, e um dos mais rentáveis à indústria do cinema, como também em outras mídias; contudo essa ampla abordagem traçou uma forma de pensar até certo ponto restrita sobre o assunto.
Considerando que a desconstrução do estabelecido pela historiografia possibilita novos sentimentos, e concepções sobre determinado tema o filme “ Bastardos Inglórios” é uma boa opção para transcendermos ao ponto comum do assunto. Tarantino em suas produções revela um mundo próprio; uma lógica própria, contudo “Bastardos Inglórios” pode ser considerado seu filme mais próximo à filmografia convencional, pois utiliza uma linha cronológica linear, o que não é comum em seus filmes.
Tarantino abala a identidade visual, e a verossimilhança já a partir dos créditos, pois utiliza fontes diferentes na composição do nome dos atores. Portanto há o interesse do próprio filme de demonstrar que não há a pretensão de ser uma reprodução de fatos reais, pelo contrário, a temática se apoia sobretudo no sentimento particular de vingança. Dentro dessa busca a história é desenvolvida nas concepções e gostos do seu diretor, desde sua trilha sonora, como nos climas de tensão semelhantes a de famosos “westerns”.
A história dirigida por Tarantino retrata a conspiração de Shosanna, judia que perdeu seus familiares mortos devido a ocupação nazista, com um grupo de judeus americanos com o intuito de por fim ao comando nazista. Os nazistas são estereotipados, ou seja, são tratados como vilões sem motivação política, sem uma sustentação densa para seus objetivos; os anseios de vingança são condicionados, e supridos com a violência comum aos filmes de Tarantino.
Porém ao contrário de parecer simples, a obra é uma reverência ao cinema, com referências, inspirações, diálogos marcantes, mostrando que uma história inusitada faz falta a atual situação do cinema. E para a historiografia é uma interessante revisitação, uma capacidade de perceber como o eventos históricos são prósperos para a cultura, entretenimento, podendo atingir as massas sem serem apenas didáticos, e não se pretendo didáticos, apenas sendo uma boa fantasia sobre um passado próximo.


Toni Endlich Leite

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Textos complementares da Guerra do Golfo


Atenção para este link - http://www.sendspace.com/file/btwr5x. A equipe de Guerra do Golfo está disponibilizando textos complementares sobre o assuntos. São matérias de jornais e revistas sobre o assunto para nos ajudar a debater a cobertura de guerra.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009


Breve análise filmográfica de “Bastardos Inglórios”


No filme “Bastardos Inglórios” (Inglourious Basterds, EUA, 2009) o roteirista e diretor Quentin Tarantino utiliza uma grande dose de violência, típica em seus filmes, para deixar sua marca numa das histórias que mais fascinam o público: a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No início o filme parecia ser como tantos outros que retratam o massacre de judeus indefesos que vivem se escondendo e fugindo das garras do regime nazista. Mas, isso, era só o começo. Esses judeus indefesos teriam sua vingança através de uma jovem, dona de um cinema francês e de uma milícia formada por judeus norte-americanos.
Ao contrário de muitos filmes produzidos sobre a época (“A Queda”, “O Pianista”, “A Vida é Bela”, etc) este não tem compromisso com a veracidade dos fatos históricos. Sabemos que Adolf Hitler não morreu num cinema francês, não temos informações sobre uma milícia exterminadora de nazistas e nem de um soldado alemão que tenha se tornado herói por ser uma “máquina de guerra”. Por outro lado, certos momentos se confundem com a realidade como a representação de Hitler e as justificativas ideológicas de superioridade racial expressas por personagens alemãs ao longo do filme.
Na maioria das produções “Hollywoodianas”, o “herói” norte-americano tem a responsabilidade de lutar contra o “mau” e salvar o mundo. O “mau” neste caso seria o regime nazista encabeçado por Hitler e o “herói” seria a milícia de judeus norte-americanos liderada por um autêntico descendente de índios norte-americanos. Contudo, o filme não parece expressar nenhum posicionamento político ligado à atualidade, embora a reação de sua exibição na Alemanha cause uma certa curiosidade.

Acredito que a intenção de Tarantino com este filme é brincar com a História, dando a ela um final mais “feliz”. Essa versão idealizada da Segunda Guerra Mundial foi feita para contemplar o público do século XXI, que devido ao nível de informação e educação, não se chocaria ou se colocaria contra o rumo dado aos acontecimentos. Tenho que citar a possível desaprovação de uma minoria que envolve racistas, neonazistas, neofascistas e pequenos grupos que simpatizam com os ideais do regime político e social do Terceiro Reich mas, esses grupos estão à margem da sociedade atual e suas opiniões provavelmente ficarão na obscuridade.
Tarantino também teve o cuidado de não banalizar o sofrimento vivido pelos judeus, pelo contrário, o que se vê na tela é uma inversão de papéis e a caça dos nazistas, colocado diversas vezes de forma satírica. Mas, acredito que se o tema fosse a perseguição aos judeus, não haveria a menor graça para a sociedade atual e o filme seria duramente criticado. O ápice do filme se dá quando Hitler é metralhado dentro do cinema em chamas e depois teria seu corpo queimado junto com os membros da alta cúpula do regime nazista. Vejo esse momento como a expressão da vingança do povo judeu assim como o desejo da sociedade atual que em sua maioria prefere o fim da guerra criado por Tarantino do que o que realmente aconteceu afinal, a morte de Hitler naquele cinema fictício foi mais justa do que o seu suicídio real.

Juliana Morais Danemberg
Rio, 25 de outubro de 2009.
Rio, 11/11/09
Juliana Morais Danemberg

MATÉRIA DE JOSÉ HAMILTON RIBEIRO SOBRE A GUERRA DO VIETNÃ PARA A REVISTA REALIDADE.

1) O QUE A PRESENÇA DO REPÓRTER MUDA NA COBERTURA DE GUERRA?

O trabalho do repórter na cobertura de guerra faz com que o relato tenha uma visão profissional do acontecimento. O repórter sabe onde deve encontrar a notícia, conhece os assuntos que mais repercutem e sabe como conquistar o leitor / espectador. Por outro lado, o trabalho de campo, mesmo com a visão profissional, tem uma forma mais particular e humana. O dia-a-dia na presença dos acontecimentos, o testemunho da morte e do sofrimento, assim como o medo de perder a própria vida fazem do relato uma espécie de diário com experiências particulares. De outra maneira ocorre com o repórter que não vai à campo, este trabalha geralmente com informações pré-produzidas e com fontes oficiais e não expressam um sentimento real.

2) O QUE UM REPÓRTER BRASILEIRO TRAZ DE DIFERENTE PARA ESTA COBERTURA?

Por ser brasileiro, José Hamilton tem maior facilidade de trabalhar na guerra. Como o Brasil tem boas relações com outras nações, o repórter não enfrenta problemas diplomáticos ficando, até certo ponto, mais livre para ir e vir atrás da notícia e registrar o que for de sue interesse. Seu trabalho também está menos sujeito à possíveis censuras dos governos em guerra. A presença do repórter no front não tem caráter político e o contato com ambas as partes do conflito possibilita maior variedade de relatos, menor parcialidade e uma visão mais ampla dos acontecimentos.

3) O QUE O ENVOLVIMENTO DO REPÓRTER JOSÉ HAMILTON RIBEIRO NA GUERRA DO VIETNÃ COMO VÍTIMA ALTERA NA PERCEPÇÃO DA GUERRA E NO RELATO?

O fato de José Hamilton ter se ferido faz com que o relato seja cada vez mais real, humano e doloroso. No hospital, por exemplo, ele descreve com detalhes o seu sofrimento assim como fala dos feridos que estão à sua volta mas, não é um simples relato. Se ele não tivesse sido ferido, iria falar da dor alheia, da tristeza, do medo mas, sem saber o que esses sentimentos (naquele momento) representavam de verdade. Neste caso, quando José Hamilton fala das dores dos outros, ele está falando da própria dor também. A diferença é que ele pode sentir na pele o que relata e a noticia é transmitida com emoção bem particular. De acordo com o que diz José Hamilton, parece que após o ferimento a guerra passou a ter um gosto mais amargo. O entusiasmo do repórter, assim como uma imensa sede por aventura foi dando lugar a uma melancolia que se origina na consciência dos males da guerra. Desta forma, tudo ficou mais cruel e sem sentido.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Exercício Guerra do Vietnã - matéria José Hamilton Ribeiro

Responda três das quatro questões abaixo sobre a aula Guerra do Vietnã, com base no debate realizado em aula e na leitura da matéria sobre a cobertura do jornalista brasileiro José Hamilton Ribeiro para a Revista Realidade. O trabalho pode ser feito em equipe e deve ser publicado como "comentário" desta postagem.

1) O que a presença do repórter muda na cobertura de guerra?
2) O que um repórter brasileiro traz de diferente para essa cobertura?
3) O que o envolvimento do repórter José Hamilton Ribeiro na Guerra do Vietnã como vítima altera na percepção da guerra e no relato?
4) Quais as diferenças entre um relato da época do Vietnã para os relatos das guerras que acompanhamos hoje pela TV?

PS.: Uma dica de filme para a turma que eu vi no final de semana. Chama-se Bons Costumes. O filme trata da decadência de uma família de nobres no interior da Inglaterra depois da Primeira Guerra. Umas das personagens é um ex-combatente que não fala do conflito e não se encaixa mais na sua velha vida. Vale à pena e oferece uma ótima reflexão sobre o tema da nossa disciplina.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Bastardos inglórios,Tarantino e a história moldada em função da arte

Se fosse possível acabar com a Segunda Guerra Mundial através do cinema, "Bastardos Inglórios" certamente seria uma das mais "originais" estratégias para dar um fim ao nazismo. O explosivo trabalho de Tarantino toma a liberdade de abandonar os fatos históricos e reimaginar o cinema como arma – idéia adotada pelos soviéticos e pelos próprios nazistas através da propaganda.No caso de Tarantino, no entanto, o jogo é aberto, nada sutil, e está mais preocupado em mostrar a força da expressão artística de seu autor, que contrariando os "lugares comuns" dos filmes de guerra, monta uma ficção que se mescla e se sobrepõe à própria história da guerra, criando um "clima" de inverossimilhança, tudo em nome da arte.
Marcas dos filmes de Tarantino estão espalhadas por todos os lugares em "Bastardos Inglórios". A primeira, e mais óbvia, é a vingança, novamente personificada numa figura feminina – no caso a jovem francesa e judia Shosanna Dreyfus. Tarantino levanta um ponto de vista muito original à respeito dos judeus diante do holocausto ; No filme, grupos de resistência judaica aparecem dando o troco, uma resposta de igual violência à perpetrada pelos nazistas, algo que se confronta à ideia costumeira de passividade e fuga judaica . A ética é totalmente deixada de lado, diante de uma perspectiva de luta individual, em que se praticamente despreza o contexto ideológico envolvido na guerra, e onde a paz passa longe de ser a solução esperada. Apesar dessa ficção criar um olhar micro e destoante da guerra , os nazistas continuam como os vilões caricatos que aparecem em outros filmes, destaque ao coronel nazista Hans Landa "O caça judeus" .

Violência predominante, falas memoráveis e longas, divisão da história em capítulos, roteiros não lineares , pausas para flashbacks. Está tudo lá, como em todo filme do diretor. Mesmo assim, temos aqui um Tarantino mais contido no estilo, ainda que o humor esteja presente em vários lugares. "Bastardos Inglórios" não é um filme como "Kill Bill" , mas também não é um filme de guerra sério nem possui pretensão de ser, como os que são tradicionalmente feitos .Tarantino busca uma narrativa mais centrada na construção dos diálogos e menos na ação .
Sua visão bastante peculiar da terra sem lei em que se transforma qualquer guerra e que a todo momento busca chocar quem o assiste,possui um desfecho que ao meu ver é registro de um final que os "vencedores" desejavam mesmo que secretamente : Hitler metralhado com todo ódio,significa o "exorcizar" de um "vilão"que paira até hoje como não destruído da maneira apropriada,convincente,esperada.
Vinícius Rodrigues de Oliveira

Faroeste na terra nazista

“Era uma vez... numa França ocupada pelos nazistas”. Assim começa um dos filmes mais esperados (e polêmicos) da temporada. Bastardos Inglórios é uma homenagem que o diretor Quentin Tarantino rende a sua arte predileta: o cinema. Atores como Aldo Ray, Hugo Stiglitz e Edwige Fenech tiveram seus nomes utilizados em personagens. Referências a diretores como Hitchcock e John Ford, a produções como O Poderoso Chefão e Era Uma Vez no Oeste são constantes na obra. Além disso, a presença da cultura pop, seja no letreiro para apresentar Stiglitz, o alemão rebelde, ou na música de David Bowie, ícone do rock, não poderia faltar nesta produção, por ser marca constante do diretor em sua filmografia.
Contudo, a característica principal de Bastardos é associar-se mais a um filme de western (sobretudo os italianos dos anos 1960) do que propriamente a um de 2a Guerra. Tal conflito é apenas um pano de fundo para um ambiente, à primeira vista, “tranquilo”, mas extremamente hostil para quem está nele. Grupos antagonistas convivem em um mesmo espaço: a França ocupada pelos alemães. Nesse espaço, histórias de vingança se desenvolvem, seja a da judia cuja família fora assassinada por um oficial alemão, ou do grupo de americanos judeus que buscam apenas infligir aos nazistas “todo o sofrimento proporcionado aos filhos de Abraão”. Vale lembrar que a temática da revanche é elemento central em vários filmes de faroeste, como o anteriormente citado Era Uma Vez no Oeste e Os Imperdoáveis.
Em sua concepção clássica, o “Far West”, como o próprio nome diz, é um oeste “distante”, um lugar imaginado partindo do concreto, que são as campanhas de expansão territorial norte-americana no século XIX. A partir desse imaginário, o “oeste” vira uma lenda, um mito, onde a civilização estadunidense se renovaria; resgataria valores e ideais propostos na colonização do leste durante o século XVII. É nesse contexto de renovação que são trabalhadas as contradições: a natureza e o progresso/cultura, a anarquia e a ordem social vigente, a América e a Europa, o cowboy e o índio... Ou o nazista e o judeu, no caso de Bastardos Inglórios!
Seja daí, talvez, a opção de Tarantino em subverter a História e criar uma fantasia em torno da guerra, ao contrário de um Spielberg, que exorta ao máximo a realidade da guerra. Não são apresentadas longas seqüências de combates, ou um campo de batalha característico, com a fotografia cinzenta e aspectos da destruição por todo lado – traços marcantes da representação belicista em Hollywood. Pelo contrário, há a permanência de uma fotografia com cores vivas e que realça uma França bucólica, charmosa – seja no campo ou na cidade. Os tiroteios são rápidos, e mesmo deixando seus rastros de morte, são menos dramáticos que as cenas de escalpelamento. A batalha em si está nos diálogos, onde os personagens se enfrentam, ameaçam e são ameaçados, realçando um clima hostil, de tensão. Para isso, o coronel Hans Landa, brilhantemente interpretado por Christoph Waltz, mostra-se fundamental: um militar germânico poliglota, que tenta pensar como o inimigo, “entrando na mente do adversário” e aos poucos o encurralando com sua conversa bem elaborada – sutil, mas ao mesmo tempo intimidante – almejando obter êxito em seus objetivos.
Um outro aspecto a ser ressaltado nesta comparação é o fator indígena, que ultimamente tem aparecido no cinema hollywoodiano como alguém enraizado na cultura estadunidense; portador de valores como a coragem, o “espírito guerreiro” e “detentor do respeito às tradições de sua cultura”. Essas características se apresentam no tenente Aldo Raine, personagem de Brad Pitt. Um sulista (o sotaque carregado não deixa mentir) mestiço que carrega o ímpeto desbravador, oriundo dos exploradores brancos do oeste selvagem no século XIX, com a alma guerreira herdada da tribo Apache, sendo exemplo o ato de tirar o escalpo do inimigo, simbolizando a submissão do mesmo.
Raine é um carismático anti-herói: apesar de afirmar sua identidade americana, não é um defensor da lei como os personagens clássicos do John Wayne. Basta observar que é um homem que praticava contrabando de bebidas durante a Lei Seca, e que exalta o fato de não seguir à risca as ordens de seus superiores, além de considerar uma “obra de arte” marcar com sua faca os nazistas. Entretanto, possui um carisma por seu estilo falastrão, irônico, mas bem humorado, com tiradas inesperadas (talvez, isto até o assemelhe ao coronel Landa). Além disso, seu espírito guerreiro e desbravador, realçado por uma cicatriz não explicada no pescoço, reflete um homem cuja guerra está em seu sangue; não manifesta contradições, não é judeu, e sua determinação em matar nazistas é simplesmente por prazer.
Resumindo, a preocupação de Tarantino não é ser 100% fiel à 2a Guerra. Isso, produções como O Resgate do Soldado Ryan e Band of Brothers já buscaram fazer. Aparentemente, sua vontade maior é homenagear o cinema, nem que para isso tenha de contar uma História diferente da que está nos livros. Para isso, enxergou no elemento western a melhor maneira de fazer tal homenagem, por tal estilo legitimar abstrações de um evento concreto, passado. Sendo assim Bastardos Inglórios é um faroeste... Um faroeste na terra nazista!

A gloriosa reescrita da história



Em Bastardos Inglórios, Quentin Tarantino mais uma vez trabalha com um de seus aspectos favoritos: a violência caricaturada. Tiros furam as peles, facas cortam testas e feridas se abrem. Feridas estas que também, mais uma vez, resgatam a memória da Segunda Guerra Mundial e da perseguição aos judeus.


Porém, ao contrário da mesmice de filmes sobre o tema, Tarantino propõe uma nova abordagem, apesar do desvio histórico, e apresenta os judeus não como melancólicos sacos de pancada, mas sim como sujeitos irados e ativos contra os nazistas. E, além disso, a utilização do humor, principalmente com a violência, dá um novo tom à temática, ao provocar riso em uma situação em que se chora, geralmente.


A partir disso, podemos pensar como esta revisitação da história e da memória dos 70 anos do início da Segunda Guerra pode ser interpretada. É curioso como a inversão de “bandidos e mocinhos” nos faz torcer a favor dos “bandidos”, uma vez que temos conhecimento de como foi o desfecho da história. Pela minha própria experiência ao ver o filme, é algo estranho torcer para que o cinema explodisse com todos os nazistas, incluindo Hitler. Torcer pela inversão da história, por um final diferente, traz consigo a pergunta: “E se tivesse terminado assim?”


Outro ponto que vale uma reflexão é de como teria sido a recepção do filme por judeus e por alemães. Provavelmente, a apresentação de judeus assassinos, um Goebbels chorando de emoção pela aprovação de Hitler pelo filme e o fuzilamento do líder nazista não ficaram livres de interpretação, seja com o riso, seja com a indignação.



Vingança à la Tarantino


Vingança. Essa é a essência da filme de Quentin Tarantino. Com uma bela pitada de humor a película o diretor norte-americano representa através da ficção o que muitos gostariam de ter sido verídico.
Sem quase nenhuma preocupação com os fatos históricos, Tarantino retrata um grupo de soldados judeus, americanos e alemães que são deixados na França, durante a Segunda Guerra Mundial com o intuito de matar nazistas. Esse cenário favorece o estilo violento e bastante criativo do diretor, que explorou ao máximo o que uma França ocupada por nazistas poderia oferecer. Resultado: uma vingança perfeita, realizada por um negro e por uma judia caracterizando um fim ideal da 2ª Guerra Mundial, possibilitando a redenção de um povo que sofreu sobre os que causaram seu sofrimento. Caricaturas são o ponto alto do filme. É divertida a maneira como Tarantino conscientemente reduz personagens aos seus estereótipos conhecidos (o americano caipira e bruto, a francesa blasé, o inglês super educado, os nazistas engomadinhos...) para economizar tempo em explicações e construção de personagens. O único com quem ele realmente se preocupa é Hans Landa (Christoph Waltz). Adorar o nazista e trabalha-lo detalhadamente é algo curioso que o filme oferece.
Além disso, o realismo das cenas de violência é algo que chama atenção: explosões, tiros, facadas, escalpelamentos...e muito sangue, tudo isso são marcas de Quentin Tarantino, que fez do filme entrar para o hall dos melhores filmes de ficção, já que envolve diversos gêneros em seu roteiro: da ação a comédia, do drama ao horror; afinal, quem não gostaria de ver Adolf Hitler tomando vários tiros na cara? Sem dúvida é um excelente atrativo... Refletido em um faturamento de U$$ 37 milhões somente na 1ª semana no EUA.
João Henrique F. Leite

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Heroísmo norte americano ataca outra vez!

O filme “Bastardos Inglórios” tem como tema principal à vingança dos judeus contra os nazistas, não se trata de um relato sobre a Segunda Guerra Mundial, pois não há preocupação com a realidade histórica. A guerra é somente um pano de fundo, o filme se passa quando os nazistas ocupam a França.


Quentin Tarantino, o diretor do filme, aborda questões de uma forma cômica e sarcástica, o que é surpreendente em um filme contextualizado na Segunda Guerra. Outra característica marcante do filme, característica também marcante em toda a sua filmografia, é o banho de sangue gratuito, a violência não é implícita e chega a chocar quem assiste.


Para além de como ele aborda as questões do filme, a questão da vingança é um tema polêmico e delicado, pois olhar os nazistas como pessoas ruins não vai ajudar a entender aquele momento, essas pessoas estavam cheias de ideologias, como a ideologia de pureza que é uma das causas que movimentou aquelas pessoas para agirem assim, é preciso entender a cultura e o momento histórico que aquele povo estava inserido para pensarem daquela forma. Acredito que matar todos os nazistas para se vingar, é ter a mesma atitude que eles tiveram, é pensar como raça superior e que por isso pode exterminar o outro, é se apropriar do discurso do outro.


Essa apropriação do discurso ficou clara na cena do cinema, em que os nazistas estavam rindo e batendo palma, achando graça com o filme “O orgulho da nação”, mas se olhássemos para o lado estávamos todos dentro de um cinema rindo e achando graça de cenas sanguinárias. Como podemos julgar o outro se fazemos o mesmo?


Outra questão que é no mínimo engraçada, é que o grupo de judeus que foi encarregado da vingança, e que consegue matar o Hitler no final do filme, e que fica com a fama de lutar e promover o fim da guerra, é um grupo de judeus norte-americanos. O filme rompe com a imagem do judeu como pobre coitado, e cria uma imagem forte daquele que luta e se vinga, o único problema é que os soldados fortes e incríveis são norte-americanos. A menina Shosanna que é injustiçada no começo do filme e que mais tarde tenta se vingar, prendendo todos os nazistas no seu pequeno cinema e pondo fogo, morre no final e seu feito não poderá ser reconhecido pela humanidade, pois ninguém sabia, e todos vão achar que os norte-americanos salvaram o mundo das garras do Hitler.


Há também alguns pontos de semelhança entre a sofrida realidade que os judeus viveram e a fictícia vingança criada por Tarantino, como os soldados judeus americanos que marcavam os nazistas com uma suástica na testa, para que eles pudessem ser reconhecidos sem o uniforme, e os judeus também andavam marcados com uma estrela de Davi no braço para serem reconhecidos. Pode se pensar também numa semelhança do cinema trancado e as pessoas desesperadas tentando sair, com o desespero dos judeus tentando sair da câmera de gás, desespero este que já foi representado em muitos filmes.


Abordando positivamente ou negativamente as questões da Segunda Guerra, Tarantino consegue fazer com que as pessoas reflitam sobre o tema, e esse é o papel de uma obra de arte. O filme é valido pela reflexão que ele sugere, mesmo que não consiga romper com o velho heroísmo norte americano.


Evelin Reginaldo



sábado, 31 de outubro de 2009

A vingança da História "por fora"


Tarantino foi qualificado como um “inovador” por parte da crítica de Bastardos Inglórios: enquanto a maior parte dos filmes sobre a segunda guerra ainda abordariam o tema muito presos a fáceis “clichês”, o recorte e a trama construídos pelo diretor teriam inovado e permitido apreender outros aspectos do evento, como o “troco” sanguinário judeu e a impossibilidade de identificar “bons” e “maus” no contexto da guerra. Mais que isso: parte da crítica louvou exatamente a liberdade com que o diretor tratou a história, dissolvendo toda a tensão do conflito num potente “olho por olho, dente por dente”, para além de qualquer discussão ética envolvendo o contexto da guerra. Estendendo um pouco mais a parte ingenuamente simplista desse argumento, Arnaldo Bloch reforça que, ao contrário de filmes “facistóides que escondem maniqueísmos em pretensos hiper-realismos”, Tarantino teria mostrado que, em meio ao “colapso de destruição [da guerra], não há ideologia que sobreviva: só a sede [violenta] de reparação imediata, quase simultânea”.
É importante notar que esses pontos estão presentes nos próprios comentários que o diretor fez sobre o filme. Para além de qualquer revisionismo explícito do episódio da guerra, Tarantino afirma que buscou fazer somente uma “obra de arte”, e que o longa, ao contrário da pretensão de alguns, deveria ser interpretado somente enquanto tal. Aqui chama a atenção exatamente para o seu objetivo com o cinema: transformar linguagens estéticas mais diversas e organizar novas referências e tramas; enfim, usar e abusar da busca constante pela “inovação” cinematográfica – o que inclusive lhe rendeu a crítica de ser uma eterna criança fascinada com seus brinquedos. É nesse sentido que repete, mais uma vez, agora em Bastardos Inglórios, que seus filmes não são para ser vistos por um “qualquer público”, mas por quem saiba apreciar a sua “arte”.
Para alguns, por mais que o diretor não vise diretamente esta finalidade, a “eterna criança” cresceu com Bastardos Inglórios – principalmente ao escapar das imputações maniqueístas que ainda marcariam o tema da segunda guerra mundial, colaborando para, enfim, construir uma nova visão da guerra. O que fica patente para mim é que, nesta “obra de arte”, a explosão do conflito generalizado e as conseqüências mais impensadas e dramáticas projetadas na vida das pessoas durante uma guerra, dão lugar à disputa particular entre os personagens caricaturais de judeus e alemães. Longe de organizar uma trama complexa e problemática naquele contexto de guerra, Tarantino revela apenas caricaturas elevando ao máximo as suas obsessões e perseguindo até o fim o desenvolvimento de suas ações (o americano caipira e bruto, a francesa blasé, o inglês supereducado, os nazistas engomadinhos). Aqui estamos muito distante da idéia clássica que fazemos da segunda guerra: a guerra não corrói certezas nem força os atores sociais a buscarem uma resposta em meio à destruição. Ao invés de uma disputa ideológica antagônica temos um quadro no qual as ações individuais dos personagens, mesmo que envolvidos na problemática da guerra, correm paralelamente a qualquer possibilidade de ação coletiva na conjuntura. Mas este quadro não se expressa como a visão da guerra explícita do diretor, como alguns críticos quiseram ver: ele é traçado unicamente como "imagem", à maneira pós-moderna, bem à la Tarantino. Uns acreditam que foi justamente esse aspecto que incomodou os “moralistas”, por destruir qualquer possibilidade de existência de uma ética ideológica da segunda guerra. Ao contrário, penso que a construção da trama e a própria ação caricatural dos personagens contribui para que, ao invés de identificarmos a complexidade da guerra e constarmos a falência de uma interpretação ideológica que passe por cima de tudo a fim de afirmar determinada legitimidade, organizemos um distanciamento forte em relação a toda a problemática do evento.
Por isso, se Tarantino insiste em afirmar somente a sua intenção “artística”, o filme não deixa de suscitar questões e dialogar com o enquadramento da memória do período. Voltar ao contexto da segunda guerra pode ser uma escolha, acima de tudo, “estética”, nos termos do diretor, mas ela também não deixa de mobilizar e dialogar com as fortes referências culturais que possuímos do conflito. Tarantino insiste que seus personagens são “seres humanos” inventados que não podem ser encaixados em modelos de “bom” ou “mau”, mas a forma como ele constrói a trajetória deles não dimensiona um envolvimento mais “real” na própria problemática da guerra. A guerra existe apenas como um grande pano de fundo: os personagens atuam e podem mesmo mudar o seu curso (como de fato acontece no filme), mas eles não o fazem pelas razões que estiveram presentes na deflagração do conflito: mostra-se um Hitler obsessivo e completamente inseguro que busca na expansão alemã o remédio de seus problemas emocionais; um oficial da SS que aproveita o contexto da guerra para ascender na burocracia nazista; um norte-americano descendente indígena que se aproveita da guerra para por à prova a sua brutalidade interiorana; um soldado nazista que procura ganhar a simpatia do regime; enfim, uma judia que busca vingar a morte de toda a sua família. Como falei, acredito que tanto a construção da trama quanto a ação caricatural dos personagens contribuem de forma fundamental para o esvaziamento de uma discussão mais densa sobre o tema. Tarantino afasta-se completamente do “real” da segunda guerra, para em meio a ele, construir a sua trama “por fora” – e mesmo nos mostrar que esta poderia guardar um final surpreendente. Como avisou em uma entrevista, essa é a “vingança da história”. Imagine a ironia se a guerra, tão “importante” para uns, fosse resolvida por um desses personagens? Certamente, se isso tivesse ocorrido, o diretor teria possuído um material ainda melhor para construir seu filme, justificar um distanciamento da problemática e divulgar a sua “arte” para seu grande público “seleto”.

Referências de críticas e entrevistas
http://g1.globo.com/Noticias/Cinema/0,,MUL1328761-7086,00.html
http://www.omelete.com.br/cine/100022604/Critica__Bastardos_Inglorios.aspx
http://portal-cinefilo.com/entrevista-tarantino-fala-sobre-seu-mais-novo-filme-%E2%80%9Cbastardos-inglorios%E2%80%9D/
http://oglobo.globo.com/blogs/arnaldo/

Igor Fernandes

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Novos olhares


O filme "Bastardos Inglórios" de Tarantino chama atenção por muitos aspectos que já foram destacados aqui. No entanto, a meu ver, o que realmente faz, ou pode fazer, o espectador se deliciar com a película é o fato de nos dar o que muitos queriam há muito tempo: o troco. Mais do que as derrotas nazistas para os Bastardos, mas o judeu dando o troco em seu opressor.

Não posso falar desse aspecto marcante sem me referir a outro fundamental para que essa vingança ocorra tão intensamente: a reescrita da história. Tarantino não só lança um novo olhar sobre a história, mas a reinventa; contudo, não sem lançar um novo olhar sobre o tema, que de objeto passa a ambiência. Isso me faz lembrar uma edição da Superinteressante, de setembro deste ano, que tratava das novas perspectivas de uma "nova geração de historiadores" em torno da Segunda Guerra, dentre as quais destaco os estudos acerca da "valentia dos judeus", como chamou a própria Super, que tratam justamente da resistência judia ao Terceiro Reich. Considerando que Tarantino levou 10 anos para escrever o roteiro do filme, acho difícil dizer que sua postura reescritora da história é reflexo dessa revisão historiográfica sobre o assunto, posto que esta é muito recente, mas sem dúvida acho que podemos pensar que as duas são uma reação comum, nos campos artístico e acadêmico cada uma, ao desgaste de um tema tão vastamente tratado, ou a um desgaste de sua abordagem.
Se a História cansou de caracterizar a Segunda Guerra em certa medida pelo massacre de judeus, também o cinema e, mais do que isso, o público, cansou de ver as telas exibirem tais atrocidades. Talvez mesmo porque toda a produção fílmica sobre a esse respeito (ao menos a que eu conheço), ou seja, a "história do vencedor", tenha contribuído para uma antipatia - mais do que isso, ódio mesmo - em relação ao nazismo, de modo que a desforra de Tarantino encontra seu lugar na platéia. Posso estar enganado, mas foi assim que eu me senti ao assistir ao filme.


Ponto para reflexão: em inglês, o nome do filme é "Inglorious Basterds", e não "Bastards", como deveria.



Ricardo Dutra

Guerra e arte

Ao pesquisar a cerca das criticas do filme após assisti-lo, percebi que muitos autores se preocuparam em falar a respeito do sangue, enfatizando a cena em que um soldado nazista tem seu crânio destruído por um taco de basebol. Ao abordar a temática de uma guerra, creio ser impossível o não uso de violência, seja ela física ou psicológica. Em “A lista de Shindler (The Schindler's List, 1993 – Steven Spielberg)” a cena mais chocante fica por conta da seqüência da menina de vestido vermelho, primeiro passeando pelas ruas, depois na pilha de cadáveres. Já em “A vida é bela (La Vita È Bella, 1997 – Roberto Benine)” a violência fica a cargo do filme inteiro. E para não deixar de citar uma cena brasileira e forte, uso “Olga (2004 – Jayme Monjardim)” quando a filha dela é retirada da protagonista na prisão. O sangue em si, já se tornou marca registrada no cinema, principalmente o europeu, que possui uma abertura maior e alguns temas mais “cult”. O que mais choca é a desumanidade explicita, a crueldade e a violência psicológica.

Retomando a cena tão criticada de Bastardos inglórios lembro-me automaticamente de “Irreversível (Irréversible, 2002 – Gaspar Noe)” onde a primeira cena foi um crânio sendo devidamente esfacelado por um extintor de incêndio. Sem contexto e sem explicação, que só virão ao longo do filme. Tarantino usou o recurso com maestria fazendo assim uma obra de arte. Outro ponto que pode ser observado foi o uso da câmera giratória, com fez pela primeira vez Gaspar Noe em “Irreversível” para dar a sensação ao expectador de total confusão e desconforto.

Outro ponto que é necessário ser abordado são as falas iniciais, onde o caçador de judeus explica para o fazendeiro que a repulsa por judeus pode ser comparada a repulsa humana por ratos, mas não por esquilos, mesmo ambos sendo roedores da mesma espécie. Apesar de longo, o dialogo resume de forma clara toda a ideologia nazista.

A relevância de um filme sobre a segunda guerra em pleno 2009 é quase que obvia. A indústria cinematográfica norte-americana é formada por muitos membros de origem judaica e histórias como estas sempre seduziram Hollywood e, consequentemente, o grupo que entrega o Oscar. Podemos comprovar com a premiação do filme “Os falsários (The Counterfeiters, Áustria, 2007)” como melhor filme estrangeiro. Dentro deste contexto, fazer uma vingança judia, especulando sobre o “SE” usado de forma espetacular na fala de Aldo Raine (Brad Pitt) dirigindo-se ao caçador de judeus – “SE eles ficarem, SE eles estiverem vivos, Se... Se... São muitos SE’s para uma frase, não acha?”. E é exatamente isso que Bastados Inglórios é: um grande SE. O roteiro é divido em duas partes: na vingança pessoal de Shoshanna (Melanie Laurent) e a missão dos bastardos, que inverteu os papeis tornando os judeus caçadores de nazistas.

Na historiografia recente já possuem relatos de movimentos de resistência judia. Isso quer dizer que essa imagem montada pelo cinema de que eles deixaram o genocídio acontecer livremente está sendo aos poucos desconstruída. Em reportagem da Revista Aventuras da história, set/09, fala sobre Mordechai Anielwicz, importante líder da resistência judaica e sobre o levante do gueto de Varsóvia, onde judeus resistiram por mais de um mês a ofensiva alemã. Contavam com até 500 militantes e foram esmagados pelo general da SS Jürgen Stroop.

O que temos ao fim do filme é a sensação de alivio, pois o “louco” ditador Hitler foi metralhado incansavelmente pelo soldado norte americano... Não foi assim que aconteceu, mas se o SE do filme realmente fosse um fato, o EUA salvariam o dia...
Mesmo com essa distopia, o ingresso vale a pena.

Bastardos Inglórios: algumas questões.


O filme “Bastados Inglórios” destaca-se por uma narrativa diferenciada dos eventos da Segunda Guerra Mundial. Este fato parece se assemelhar a alguns filmes mais atuais que parecem tratar eventos históricos mais como pano de fundo para histórias fictícias, do que historias que buscam analisá-los como momentos históricos em si. Levando-se em consideração o fato de representar uma ficção a cerca dos mesmos, podemos destacar alguns pontos interessantes.

Em primeiro lugar, a narrativa tem um formato interessante, dividido em capítulos, e com alguns efeitos de cena que lembram as histórias em quadrinhos. A caracterização dos personagens também merece ser destacada. O capitão americano que em uma cena defende e justifica o ataque aos nazistas destacando como os mesmos são violentos e cruéis, incita a violência contra eles. O que faz destacar o caráter predominante da violência durante o filme. Independente do lado, o filme parece destacar a guerra como um local onde as pessoas não somente são obrigados a usar da violência para atacar e se defender dos seus inimigos, mas um espaço de libertação onde a violência é permitida mesmo aos extremos, aonde a permissividade vai muito além do que é possível em tempos de paz.

Em um segundo momento, vale à pena destacar a representação de um personagem histórico como Hitler. O mesmo é representado de forma histérica e muitas vezes meio fora do controle e inseguro, mas vale destacar que apesar de uma representação degradante, o filme o representa como um ser humano com falhas de seres humanos comuns. A morte de Hitler que acontece no filme, fruto da vingança judia, vale um grande destaque, pois apresenta uma grande licença poética do filme. O que vale uma discussão interessante no quesito da memória. Até onde um filme pode modificar um fato histórico sem que a verdade factual possa ser atingida por estas mudanças, e sem que a memória dos que foram atingidos por situações limites podem ser afligidas por novas vertentes de interpretação. Até onde a ficção pode usar a memória e a verdade histórica.

Em um terceiro momento é importante destacar a trama principal do filme que é a vingança dos judeus contra os nazistas. A forma com que ela aparece no filme seja como um esquadrão de judeus especializados em matar nazistas, ou através da judia que planeja incendiar um cinema durante um evento nazista e assim matar a principal cúpula deste governo, mostra uma serie de eventos que nunca existiram, e devemos nos perguntar o que nos quis mostrar com estes eventos. Parece uma grande ironia do filme mostrar os principais ícones do nazismo serem mortos durante uma exibição de um filme que destaca um de seus soldados como grande herói. Deve destacar-se a presença de alemães desertores entre o grupo dos “bastardos inglórios”.

Por fim, acho que o filme é valido não somente por mostrar uma perspectiva diferenciada dos eventos da Segunda Guerra Mundial, mas sim, por ser o primeiro a tratar no assunto de maneira diferenciada, e principalmente por ser o primeiro a tocar no assunto em forma de humor. E claro que esta forma diferenciada de abordagem provoca muitas questões que merecem destaque na discussão dentro das abordagens mais antigas e tradicionais da guerra.

Milena Ferreira Sanandres

O filme “Bastardos inglórios” de Quentin Tarantino lançado recentemente no Brasil tem as características básicas dos filmes deste diretor: o humor a violência. Dessa vez, a História é usada como pano de fundo para a ação e a maior parte dos personagens é fictícia. Com as figuras históricas, como as figuras centrais do Reich e o próprio Hitler, também ocorre algum nível de ficcionalização na medida em que aparecem bastante caricaturadas. A proposta do filme tem sido descrita em algumas críticas como uma tentativa de mostrar uma “vingança judia”. No entanto, um das perspectivas que surgiram da renovação sobre o tema da Segunda Guerra Mundial versa justamente sobre o papel dos judeus e a problematização de sua posição no fenômeno do Holocausto. Como na presente disciplina temos dialogado com materiais provenientes do jornalismo, destaco a edição 269 de Setembro de 2009 da Revista Super Interessante dedicada ao tema em vista dos 70 anos do acontecimento. A revista, entre os assuntos abordados, procura demonstrar que a imagem do prisioneiro em um pijama listrado, símbolo da trajetória judia, não dá conta de todas as posturas assumidas pelos judeus naquele contexto. Alguns deles contra-atacaram e outros até mesmo optaram pela colaboração. Entre os grupos que contra-atacaram, que são os que nos interessam particularmente aqui, estão os irmãos Bielski que se notabilizaram através do livro, e depois filme, “Um Ato de Liberdade” sobre guerrilhas judias. Os grupos guerrilheiros eram compostos por judeus fugitivos de campos de concentração ou dos guetos. Tais grupos viviam em condições precárias em florestas ou pântanos situados em regiões remotas as quais os nazistas não sabiam como chegar. Entre as ações que conseguiam perpetrar sem denunciar seu posicionamento estão: interceptação de carregamentos de comida alemães, sabotagem de usinas elétricas e fábricas, descarrilamentos de trens e, quando possível, assassinato de alguns nazistas. No caso do grupo dos irmãos Bielski, cálculos indicam que chegaram a matar 400 inimigos. O grupo, que teve início em 1942 na Bielo-Rússia, contava apenas com os quatro irmãos mas chegou a abrigar 1200 judeus quando seu sucesso começou a atrair pessoas. No entanto, muitas delas não tinham conhecimento ou condições para lutar e esconder-se em lugares inóspitos em condições adversas. Do total de 1200 membros que grupo contava em seu auge, 70% eram idosos, mulheres e crianças, o que os obrigou a procurar regiões ainda mais remotas. Apesar das dificuldades, em 1944 quando a Bielo-Rússia voltou a pertencer a URSS, o grupo regressou na condição de sobrevivente dos nazistas.

Como vemos, as condições das guerrilhas judias eram mais difíceis do que o que foi visto no filme. No filme o grupo que oferecia resistência aos nazistas também mantinham tocaias em florestas, no entanto seu grupo era treinado contando com membros que de alguma forma possuíam experiência de combate. À diferença dos grupos guerrilheiros históricos, as ações de ataque aos nazistas eram realizadas sistematicamente e com requintes de violência em uma tentativa de originar terror psicológico. Segundo se sabe sobre os grupos guerrilheiros, o confronto direto era, ao contrário, evitado embora as boas oportunidades que surgissem não fossem desperdiçadas. O que é curioso observar sobre o filme é que embora o grupo representado fosse composto por membros de diversas nacionalidades, a sua origem é norte-americana. O desfecho também se dá através da negociação com oficiais norte-americanos. Com a ressalva de que processar uma atualização do tema através das renovações historiográficas certamente está fora da intencionalidade do filme, não podemos deixar de notar que tais elementos indicam que apesar de trazer um posicionamento judeu diferente do corrente, o filme limita a isso sua inovação, uma vez que outro viés de renovação do assunto não foi tocado: a importância das vitórias soviéticas, tais como a de Stalingrado, para a mudança do curso da guerra. No filme, a conclusão da guerra é novamente creditada à participação norte-americana.

A história de Tarantino


Bastardos Inglórios foi dirigido por Quentin Tarantino que se passa no bojo da Segunda Guerra mundial. A obra segue as características clássicas da obra de Tarantino com roteiros não-lineares, diálogos extensos e com seu uso peculiar da violência.

O filme não segue a dita “verdade histórica”, com episódios fictícios em meio alguns personagens reais e irreais, o diretor imprimir uma nova abordagem ao tema e até subverte em partes alguns acontecimentos, uma vez que no filme a maior parte da violência parte dos judeus para os nazistas. A própria foto que escolhi para exemplificar minha fala faz uma clara analogia, uma vez que corpos judeus eram amontoados, largados nos campos de concentração durante a segunda guerra, assim também o pôster mostra cadáveres nazistas e por cima deles os pisando está um judeu com uma frase ainda mais sugestiva. O estilo dos personagens de Bastardos Inglórios é outro ponto alto do filme, eles são construídos em cima de estereótipos como o próprio Hitler retratado como um histérico e neurótico, os americanos caipiras, francesas charmosas, alemãs burocráticos, extremamente caricatas e com destaque para o oficial nazista Hans Landa interpretado pelo ator Christoph Waltz que de fato atua magistralmente no filme.

Concluo ressaltando como a obra se desenvolve de forma surpreendente, a primeira cena apela a um aspecto dramático que em poucos momentos do filme foi associado, em seu desenrolar este explora mais seu lado cômico até pela forma como a violência é apresentada. Claramente o diretor não assumiu um compromisso em contar a história, mas sim em contar uma história, uma narrativa cinematográfica

O absurdo como recurso narrativo


Em “Bastardos Inglórios”, Tarantino surpreende a todos com um final tão inusitado quanto “historicamente descompromissado”: um plano para assassinar as maiores lideranças nazistas (incluindo Hitler e Goebbels) é - ao contrário do que sabemos – “bem sucedido”. Não acredito que esteja em jogo, aqui, a idéia de “verossimilhança” ou que qualquer crítica baseada na dissonância do filme com a realidade histórica possa se sustentar. O final insólito do filme, devemos notar, não pretende “revisar” (no sentido “revisionista” do termo) dados historicamente conhecidos sobre a segunda guerra: sua própria narrativa não tem, nem pretende ter, força suficiente para fazer com que o espectador passe a acreditar no fim alternativo que Tarantino propõe ao evento. Uma crítica baseada no argumento de um final “historicamente insustentável” deve entender que é no próprio absurdo que reside o maior recurso narrativo do diretor: toda a platéia sabe (ou deveria saber) que não foi aquele o desfecho da guerra; o choque provocado pelo fim alternativo é justamente o que pretende mobilizar o espectador. Nesse sentido, o filme mostra um evento que não se pretende acreditável; quaisquer críticas sobre isso são absolutamente tautológicas, já que se pressupõe que a verdade seja conhecida, para que o final possa ser apreciado (no sentido de contemplado). Pode-se, certamente, discutir a linguagem fílmica contemporânea a partir da obra; é possível, também, analisar as visões contemporâneas acerca da Segunda Guerra e do Nazismo. Com relação aos supostos perigos da tentativa de revisão dos fatos da segunda guerra, fica apenas um lembrete: é na sutileza que reside a maior arma dos que propõe visões enviesadas da história.