quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O filme “Bastardos inglórios” de Quentin Tarantino lançado recentemente no Brasil tem as características básicas dos filmes deste diretor: o humor a violência. Dessa vez, a História é usada como pano de fundo para a ação e a maior parte dos personagens é fictícia. Com as figuras históricas, como as figuras centrais do Reich e o próprio Hitler, também ocorre algum nível de ficcionalização na medida em que aparecem bastante caricaturadas. A proposta do filme tem sido descrita em algumas críticas como uma tentativa de mostrar uma “vingança judia”. No entanto, um das perspectivas que surgiram da renovação sobre o tema da Segunda Guerra Mundial versa justamente sobre o papel dos judeus e a problematização de sua posição no fenômeno do Holocausto. Como na presente disciplina temos dialogado com materiais provenientes do jornalismo, destaco a edição 269 de Setembro de 2009 da Revista Super Interessante dedicada ao tema em vista dos 70 anos do acontecimento. A revista, entre os assuntos abordados, procura demonstrar que a imagem do prisioneiro em um pijama listrado, símbolo da trajetória judia, não dá conta de todas as posturas assumidas pelos judeus naquele contexto. Alguns deles contra-atacaram e outros até mesmo optaram pela colaboração. Entre os grupos que contra-atacaram, que são os que nos interessam particularmente aqui, estão os irmãos Bielski que se notabilizaram através do livro, e depois filme, “Um Ato de Liberdade” sobre guerrilhas judias. Os grupos guerrilheiros eram compostos por judeus fugitivos de campos de concentração ou dos guetos. Tais grupos viviam em condições precárias em florestas ou pântanos situados em regiões remotas as quais os nazistas não sabiam como chegar. Entre as ações que conseguiam perpetrar sem denunciar seu posicionamento estão: interceptação de carregamentos de comida alemães, sabotagem de usinas elétricas e fábricas, descarrilamentos de trens e, quando possível, assassinato de alguns nazistas. No caso do grupo dos irmãos Bielski, cálculos indicam que chegaram a matar 400 inimigos. O grupo, que teve início em 1942 na Bielo-Rússia, contava apenas com os quatro irmãos mas chegou a abrigar 1200 judeus quando seu sucesso começou a atrair pessoas. No entanto, muitas delas não tinham conhecimento ou condições para lutar e esconder-se em lugares inóspitos em condições adversas. Do total de 1200 membros que grupo contava em seu auge, 70% eram idosos, mulheres e crianças, o que os obrigou a procurar regiões ainda mais remotas. Apesar das dificuldades, em 1944 quando a Bielo-Rússia voltou a pertencer a URSS, o grupo regressou na condição de sobrevivente dos nazistas.

Como vemos, as condições das guerrilhas judias eram mais difíceis do que o que foi visto no filme. No filme o grupo que oferecia resistência aos nazistas também mantinham tocaias em florestas, no entanto seu grupo era treinado contando com membros que de alguma forma possuíam experiência de combate. À diferença dos grupos guerrilheiros históricos, as ações de ataque aos nazistas eram realizadas sistematicamente e com requintes de violência em uma tentativa de originar terror psicológico. Segundo se sabe sobre os grupos guerrilheiros, o confronto direto era, ao contrário, evitado embora as boas oportunidades que surgissem não fossem desperdiçadas. O que é curioso observar sobre o filme é que embora o grupo representado fosse composto por membros de diversas nacionalidades, a sua origem é norte-americana. O desfecho também se dá através da negociação com oficiais norte-americanos. Com a ressalva de que processar uma atualização do tema através das renovações historiográficas certamente está fora da intencionalidade do filme, não podemos deixar de notar que tais elementos indicam que apesar de trazer um posicionamento judeu diferente do corrente, o filme limita a isso sua inovação, uma vez que outro viés de renovação do assunto não foi tocado: a importância das vitórias soviéticas, tais como a de Stalingrado, para a mudança do curso da guerra. No filme, a conclusão da guerra é novamente creditada à participação norte-americana.

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