segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Heroísmo norte americano ataca outra vez!

O filme “Bastardos Inglórios” tem como tema principal à vingança dos judeus contra os nazistas, não se trata de um relato sobre a Segunda Guerra Mundial, pois não há preocupação com a realidade histórica. A guerra é somente um pano de fundo, o filme se passa quando os nazistas ocupam a França.


Quentin Tarantino, o diretor do filme, aborda questões de uma forma cômica e sarcástica, o que é surpreendente em um filme contextualizado na Segunda Guerra. Outra característica marcante do filme, característica também marcante em toda a sua filmografia, é o banho de sangue gratuito, a violência não é implícita e chega a chocar quem assiste.


Para além de como ele aborda as questões do filme, a questão da vingança é um tema polêmico e delicado, pois olhar os nazistas como pessoas ruins não vai ajudar a entender aquele momento, essas pessoas estavam cheias de ideologias, como a ideologia de pureza que é uma das causas que movimentou aquelas pessoas para agirem assim, é preciso entender a cultura e o momento histórico que aquele povo estava inserido para pensarem daquela forma. Acredito que matar todos os nazistas para se vingar, é ter a mesma atitude que eles tiveram, é pensar como raça superior e que por isso pode exterminar o outro, é se apropriar do discurso do outro.


Essa apropriação do discurso ficou clara na cena do cinema, em que os nazistas estavam rindo e batendo palma, achando graça com o filme “O orgulho da nação”, mas se olhássemos para o lado estávamos todos dentro de um cinema rindo e achando graça de cenas sanguinárias. Como podemos julgar o outro se fazemos o mesmo?


Outra questão que é no mínimo engraçada, é que o grupo de judeus que foi encarregado da vingança, e que consegue matar o Hitler no final do filme, e que fica com a fama de lutar e promover o fim da guerra, é um grupo de judeus norte-americanos. O filme rompe com a imagem do judeu como pobre coitado, e cria uma imagem forte daquele que luta e se vinga, o único problema é que os soldados fortes e incríveis são norte-americanos. A menina Shosanna que é injustiçada no começo do filme e que mais tarde tenta se vingar, prendendo todos os nazistas no seu pequeno cinema e pondo fogo, morre no final e seu feito não poderá ser reconhecido pela humanidade, pois ninguém sabia, e todos vão achar que os norte-americanos salvaram o mundo das garras do Hitler.


Há também alguns pontos de semelhança entre a sofrida realidade que os judeus viveram e a fictícia vingança criada por Tarantino, como os soldados judeus americanos que marcavam os nazistas com uma suástica na testa, para que eles pudessem ser reconhecidos sem o uniforme, e os judeus também andavam marcados com uma estrela de Davi no braço para serem reconhecidos. Pode se pensar também numa semelhança do cinema trancado e as pessoas desesperadas tentando sair, com o desespero dos judeus tentando sair da câmera de gás, desespero este que já foi representado em muitos filmes.


Abordando positivamente ou negativamente as questões da Segunda Guerra, Tarantino consegue fazer com que as pessoas reflitam sobre o tema, e esse é o papel de uma obra de arte. O filme é valido pela reflexão que ele sugere, mesmo que não consiga romper com o velho heroísmo norte americano.


Evelin Reginaldo



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