quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Bastardos inglórios,Tarantino e a história moldada em função da arte

Se fosse possível acabar com a Segunda Guerra Mundial através do cinema, "Bastardos Inglórios" certamente seria uma das mais "originais" estratégias para dar um fim ao nazismo. O explosivo trabalho de Tarantino toma a liberdade de abandonar os fatos históricos e reimaginar o cinema como arma – idéia adotada pelos soviéticos e pelos próprios nazistas através da propaganda.No caso de Tarantino, no entanto, o jogo é aberto, nada sutil, e está mais preocupado em mostrar a força da expressão artística de seu autor, que contrariando os "lugares comuns" dos filmes de guerra, monta uma ficção que se mescla e se sobrepõe à própria história da guerra, criando um "clima" de inverossimilhança, tudo em nome da arte.
Marcas dos filmes de Tarantino estão espalhadas por todos os lugares em "Bastardos Inglórios". A primeira, e mais óbvia, é a vingança, novamente personificada numa figura feminina – no caso a jovem francesa e judia Shosanna Dreyfus. Tarantino levanta um ponto de vista muito original à respeito dos judeus diante do holocausto ; No filme, grupos de resistência judaica aparecem dando o troco, uma resposta de igual violência à perpetrada pelos nazistas, algo que se confronta à ideia costumeira de passividade e fuga judaica . A ética é totalmente deixada de lado, diante de uma perspectiva de luta individual, em que se praticamente despreza o contexto ideológico envolvido na guerra, e onde a paz passa longe de ser a solução esperada. Apesar dessa ficção criar um olhar micro e destoante da guerra , os nazistas continuam como os vilões caricatos que aparecem em outros filmes, destaque ao coronel nazista Hans Landa "O caça judeus" .

Violência predominante, falas memoráveis e longas, divisão da história em capítulos, roteiros não lineares , pausas para flashbacks. Está tudo lá, como em todo filme do diretor. Mesmo assim, temos aqui um Tarantino mais contido no estilo, ainda que o humor esteja presente em vários lugares. "Bastardos Inglórios" não é um filme como "Kill Bill" , mas também não é um filme de guerra sério nem possui pretensão de ser, como os que são tradicionalmente feitos .Tarantino busca uma narrativa mais centrada na construção dos diálogos e menos na ação .
Sua visão bastante peculiar da terra sem lei em que se transforma qualquer guerra e que a todo momento busca chocar quem o assiste,possui um desfecho que ao meu ver é registro de um final que os "vencedores" desejavam mesmo que secretamente : Hitler metralhado com todo ódio,significa o "exorcizar" de um "vilão"que paira até hoje como não destruído da maneira apropriada,convincente,esperada.
Vinícius Rodrigues de Oliveira

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