quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Exercício Guerra do Vietnã – Matéria José Hamilton Ribeiro

1) A presença do repórter no front pode mudar muita coisa da sua percepção da guerra, desde seu sentimento geral em relação as questões a serem abordadas até a observação de fatos que poderiam passar despercebidos caso se mantivesse distante do conflito. Uma maior aproximação do evento pode mudar radicalmente o “ângulo” pelo qual se observa as guerras. Este fato é particularmente perceptível na guerra do Vietnã, quando configurava-se um clima geral de insatisfação com a guerra e, nesse sentido, desconfiava-se de uma possível interferência do governo norte-americano, mergulhado no contexto da guerra fria, na transmissão e divulgação das notícias.
3) Hamilton também se aproximou dessa sensibilidade ao buscar transmitir uma visão mais “realista” a guerra. Mas, tendo ele se transformado, depois de um acidente numa mina, em mais uma das vítimas da guerra, o autor explorará todas as conseqüências que marcam essa experiência. O acidente o coloca em um hospital ao lado das outras vítimas da guerra, onde vê os seus próprios dramas e sua experiência traumática misturar-se com a dos que ali estão. Como poderíamos esperar, a ocorrência muda completamente a sua visão da guerra, levando-o a questionar a divulgação “objetiva” da maior parte da mídia – através de dados e números e narrativas gerais. Explorando a sua própria experiência trágica, Hamilton mensura densamente o quanto um drama particular nunca poderá ser quantificado ou narrado “objetivamente” por um jornal.
4) Acredito que hoje o contexto mudou muito, assim como o que poderíamos chamar de relação guerra-sociedade. No período da guerra do Vietnã deve-se levar em conta que grande parte da insatisfação associada à guerra estava relacionada à questão do recrutamento universal, e consequentemente, a necessidade de obter-se um consentimento da população em geral em relação à participação guerra; o que foi extremamente problemático naquele período. Perdendo a guerra o seu significado, criou-se um clima de insatisfação no próprio front, onde se registraram insubordinações e inúmeras quebras na hierarquia militar. O próprio Spilberg chegou a dizer que foi este aspecto da guerra do Vietnã que sempre o horrorizou; o que, inclusive, o motivou a resgatar uma visão “republicana” da guerra em O Resgate do Soldado Ryan (1998) – onde enfatiza exatamente, apesar de não deixar de manifestar “horror” imediato presente no conflito, o comprometimento dos soldados e oficias com a causa que levou a sua deflagração.
Se tomarmos como contraponto a segunda guerra do Iraque, pode-se perceber o esforço do discurso oficial do governo norte-americano em destacar o seu caráter “cirúrgico”, bem como em proclamar o mais rápido possível o “fim” da guerra. Se antes era necessário convencer a população das causas da guerra e esperar que ela aderisse à mesma, agora se enfatiza exatamente a não-necessidade disso.
Em que isto altera a narrativa jornalística? Se antes o jornalista voltava a sua abordem “realista” da guerra para a própria crítica da sociedade em que vivia, agora tanto o discurso oficial da presidência quanto o “pânico” coletivo pós-11 de setembro em relação ao oriente médio, parecem ter quebrado esse tipo de olhar, principalmente nos Estados Unidos. Afinal, de onde falará a crítica? Pode-se destacar, como foi mencionado nos comentários anteriores, que a própria velocidade e espetacularização da guerra também reforçou a reprodução de relatos “acríticos”.
Por outro lado, deve-se mencionar o esforço de determinadas agências em enviar repórteres ao front e a reconstruir uma crítica à guerra, como no caso da Folha de São Paulo que analisamos em sala. Pois, se a crítica não se volta mais para um modelo de sociedade que ainda estava presente naqueles anos 60, a guerra não deixa de ter conseqüências dramáticas para os que se encontram diretamente envolvidos nela; sendo a experiência do repórter no front ainda um lócus privilegiado e extremamente importante para se observar esta questão.
Igor Fernandes Viana de Oliveira

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