quarta-feira, 11 de novembro de 2009


Breve análise filmográfica de “Bastardos Inglórios”


No filme “Bastardos Inglórios” (Inglourious Basterds, EUA, 2009) o roteirista e diretor Quentin Tarantino utiliza uma grande dose de violência, típica em seus filmes, para deixar sua marca numa das histórias que mais fascinam o público: a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No início o filme parecia ser como tantos outros que retratam o massacre de judeus indefesos que vivem se escondendo e fugindo das garras do regime nazista. Mas, isso, era só o começo. Esses judeus indefesos teriam sua vingança através de uma jovem, dona de um cinema francês e de uma milícia formada por judeus norte-americanos.
Ao contrário de muitos filmes produzidos sobre a época (“A Queda”, “O Pianista”, “A Vida é Bela”, etc) este não tem compromisso com a veracidade dos fatos históricos. Sabemos que Adolf Hitler não morreu num cinema francês, não temos informações sobre uma milícia exterminadora de nazistas e nem de um soldado alemão que tenha se tornado herói por ser uma “máquina de guerra”. Por outro lado, certos momentos se confundem com a realidade como a representação de Hitler e as justificativas ideológicas de superioridade racial expressas por personagens alemãs ao longo do filme.
Na maioria das produções “Hollywoodianas”, o “herói” norte-americano tem a responsabilidade de lutar contra o “mau” e salvar o mundo. O “mau” neste caso seria o regime nazista encabeçado por Hitler e o “herói” seria a milícia de judeus norte-americanos liderada por um autêntico descendente de índios norte-americanos. Contudo, o filme não parece expressar nenhum posicionamento político ligado à atualidade, embora a reação de sua exibição na Alemanha cause uma certa curiosidade.

Acredito que a intenção de Tarantino com este filme é brincar com a História, dando a ela um final mais “feliz”. Essa versão idealizada da Segunda Guerra Mundial foi feita para contemplar o público do século XXI, que devido ao nível de informação e educação, não se chocaria ou se colocaria contra o rumo dado aos acontecimentos. Tenho que citar a possível desaprovação de uma minoria que envolve racistas, neonazistas, neofascistas e pequenos grupos que simpatizam com os ideais do regime político e social do Terceiro Reich mas, esses grupos estão à margem da sociedade atual e suas opiniões provavelmente ficarão na obscuridade.
Tarantino também teve o cuidado de não banalizar o sofrimento vivido pelos judeus, pelo contrário, o que se vê na tela é uma inversão de papéis e a caça dos nazistas, colocado diversas vezes de forma satírica. Mas, acredito que se o tema fosse a perseguição aos judeus, não haveria a menor graça para a sociedade atual e o filme seria duramente criticado. O ápice do filme se dá quando Hitler é metralhado dentro do cinema em chamas e depois teria seu corpo queimado junto com os membros da alta cúpula do regime nazista. Vejo esse momento como a expressão da vingança do povo judeu assim como o desejo da sociedade atual que em sua maioria prefere o fim da guerra criado por Tarantino do que o que realmente aconteceu afinal, a morte de Hitler naquele cinema fictício foi mais justa do que o seu suicídio real.

Juliana Morais Danemberg
Rio, 25 de outubro de 2009.

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